segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CONT. CERTEZA OU ENGANO PARTE II



Foto do Serra da internet.
















Aqui os soldados foram desarmados!!!

Foto de Cris Castelo Branco
Mónica Serra entregando às crianças de Heliópolis os bonecos que foram desarmados pelas lideranças.
Presente do Fundo de Solidariedade do Goberno do Estado de SP.
http://www.fundosocial.sp.gov.br/noticias/lenoticia.php?id=285&c=6

CERTEZA OU ENGANO I



Brincar é um ato importante e necessário a toda criança. Podemos afirmar que criança que não brinca não aprende. O brincar faz parte do desenvolvimento infantil e é através da brincadeira que a criança vai construindo sua identidade, seus valores e a sua personalidade. A partir da brincadeira a criança cria o mundo que ela deseja, ela vai entendendo como as coisas funcionam, vivenciam regras, ganham e perdem nas brincadeiras e percebem que nem por isso o mundo acaba.
Muitas vezes para brincar o brinquedo infantil está presente e é uma ferramenta muito importante. Antigamente brincávamos na rua, com aquilo que tínhamos. Na nossa imaginação estava um baú gigante de brinquedos e as manhãs, tardes e noites passavam rapidamente e coletivamente com nossos amigos construíamos castelos, fazendas, cidades, ilhas, escolas. Faz de conta que éramos fadas e bruxas, príncipes e princesas, soldados, mamãe e papai, amigos de escola, eram grandes aventuras como os episódios dos livros, gibis, desenhos animados ou séries de TV. Mas tudo isso de forma natural, como toda infância deve ser.
Hoje diante a sociedade industrializada, que tem seus valores marcados e apresentados através da mídia,onde as crianças são expostas diariamente a cenas ou atos de violência, agressões e morte, nas propagandas, noticiários ou novelas, ou muitas vezes são o objeto direto dessa violência, cada vez mais pedagogos, psicólogos, pediatras, educadores pesquisam sobre essa situação na infância e refletem sobre a importância do brincar e os brinquedos que compõem essa fase lúdica.
As crianças através dos brinquedos imitam as ações dos adultos, por exemplo, o cavalo-de-pau, surge por que era o principal meio de transporte da idade média, a boneca, é um dos brinquedos mais antigos e está presente em muitas culturas e é um dos brinquedos preferidos das crianças e as armas e as espadas também estão incluídas como preferência infantil, mais de meninos é claro.
Todos os anos uma das principais associações de moradores de Heliópolis a UNAS realiza a Festa do Dia das Crianças. É uma festa comunitária que conta com a riqueza da força comunitária e a parceria dos comerciantes locais. A cada ano essa festa está crescendo, pois algumas empresas parceiras dos projetos que já acontecem na comunidade também querem trazer a sua contribuição e isso ocorre de várias formas como doação de materiais para as brincadeiras, contratações de grupos musicais e de teatro e o mais tradicional, a doações de brinquedos.
Mas esse ano as crianças de Heliópolis receberam uma doação que causou estranheza as lideranças, aos comerciantes e aos parceiros. A comunidade recebeu do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo , através da primeira dama Mônica Serra dos quase 18 mil brinquedos,que poderiam ser bonecas, bolas, jogos de montar ou brinquedos educativos, não era isso, a surpresa foi geral quando abriram as caixas e lá estava ele, o soldado mais bem armado que já vimos.
Então se os jogos e materiais didáticos traduzem por si a idéia de uma educação natural dos instintos infantis o que dizer de crianças que recebem como presente do dia das crianças soldados altamente armados.
O lúdico possibilita liberdade, ou seja, outras formas de pensar a vida humana. As crianças de Heliópolis convivem no seu dia-a-dia com a dureza de uma realidade, mas com a possibilidade de mudança, de ter um futuro melhor e isso elas fazem no ato de brincar com aquilo que se tem ou ganha, através dos projetos sócio-educacionais existentes naquela comunidade.
Por isso questionamos se ganhar soldados (made in China, mas isso é uma outra reflexão) altamente armados de espadas, metralhadoras, granadas faz com que as crianças possam brincar pensando em outra realidade??
Não estou dizendo aqui que a criança não deve brincar com armas, que não deve saber da morte, mas estou refletindo aqui sobre a realidade de algumas crianças que já convivem no seu dia-a-dia com familiares que guardam todas essas armas dentro de casa, estou pedindo a reflexão sobre os brinquedos doados pelo governador José Serra.
O lúdico é a manifestação da cultura humana, e através das brincadeiras as crianças criam suas histórias e experimentam situações que podem transformar futuramente sua realidade, pois a criança ao brincar interioriza os modelos dos adultos de casa ou da TV.
Esse governo estadual está errando demais na educação. Vamos relembrar:
Em 18 de março a folha notícia que a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo recolheu 500 mil livros de geografia com erros, como dois Paraguais, fronteira permeáveis, erros de grafia, apostila de 6ª série com conteúdo de 7ª série, entre outros erros gravíssimos.
Em 19 de maio a Secretaria novamente recolheu mais de mil exemplares de um livro distribuído como apoio a leitura para alunos de nove anos, da terceira série do ensino fundamental que continham histórias recheadas de palavrões, piadas de duplo sentido, referências a agressões físicas e verbais e palavrões, além de imagens de mulheres seminuas.
Agora mais essa no dia das Crianças?
As Lideranças da comunidade de Heliópolis passaram o sábado e o domingo que antecedeu o dia das crianças desarmando os soldados de brinquedo. Dava vontade de rir e chorar conta a liderança, que não acreditava que estava fazendo aquilo, sendo que a comunidade passou por um momento extremo de violência recentemente em setembro com a morte de uma adolescente por policias militares de São Caetano do Sul.

domingo, 6 de setembro de 2009

Por caminhos de PAZ

Caminhada da Paz - Heliópolis 2009 Foto: Cláudia C. Soares

Depois dos acontecimentos da semana em Heliópolis percebi que muitas ações precisam ser feitas, mas por outro lado são tantas pessoas unidas e colaborando para que a realidade da violência não exista. O que acontece então?
Fiquei pensando como podemos combater a violência, como podemos viver melhor.
Hoje nesse mundo contemporâneo há uma complexidade nas relações interpessoais, o individualismo reina e há a perda da solidariedade.Temos dificuldade em escutar e isso prejudica o diálogo, muitas vezes não conseguimos lidar com nossas frustações, percebemos no nosso dia-a-dia que o acesso a justiça é um caminho difícil e tortuoso e como seres humanos muito de nós temos dificuldade em falar, em expor os nossos sentimentos.
DIALOGAR? Será esse o caminho?
Na arte do diálogo acontece a participação e a inclusão. Podemos construir processos colaborativos, voltado para as múltiplas partes. Em caminhos flexíveis e transparentes. Uma educadora ou educador que esteja preocupada com o desenvolvimento integral das crianças pode construir esses caminhos dentro da educação Infantil, depois dentro do ensino fundamental I e assim por diante.
A Educação não-formal pretende percorrer esses caminhos e percebemos que ela realmente é um aprendizado para o mundo. O ensino formal ganharia força se trabalhasse junto com a educação não-formal e isso já vem acontencedo em Heliópolis. Ou seja mais pessoas precisam entrar nessa onda, nesse mundo.
Que tal ?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Educação POPULAR

Falar sobre educação popular parece fácil, mas não é, pois encontramos vários caminhos para isso.
Nos textos, nas falas das pessoas eu encontro a interferência benéfica de Paulo Freire em sua ação para uma práxis transformadora. Ora a primeira coisa que ele diz que a pessoa tem que fazer a SUA LEITURA DE MUNDO,entender o que se passa, entender qual é a situação de classe existente e em qual ele ou ela se encontra.

Ontem na sala assistimos a primeira parte do documentário Paulo Freire - Contemporâneo, dirigido por Toni Venturi,disponível na internet.Produzido pela TV Escola, emissora da Secretaria de Educação a Distância (Seed/MEC), o vídeo é encontrado em formato compactado no portal Domínio Público, na biblioteca digital do Ministério da Educação.

O vídeo é bem interessante e o debate depois foi ótimo, indagações sobre: E se o Golpe Militar não tivesse interrompido a Alfabetização em 64, será que não teríamos 960 milhões de analfabetos(MEC/SECAD)? A nossa população brasileira seria diferente??

Pessoal gostaria da colaboração de vocês nessa pergunta...

Em construção...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Preconceito é um absurdo...mas está enraizado em nossa sociedade...

Carrefour diz ter interesse em apuração de violência racista
Por: Redação - Fonte: Afropress - 19/8/2009

http://www.afropress.com/noticiasLer.asp?id=1970

S. Paulo - O Supermercado Carrefour afirmou nesta terça-feira (18/08), em Nota à Imprensa, que pretende colaborar nas investigações para identificar os responsáveis pela sessão de espancamentos a que foi submetido o funcionário da Universidade de S. Paulo (USP), Januário Alves de Santana, 39 anos, barbaramente agredido por seguranças na loja do hipermercado da Avenida dos Autonomistas, em Osasco, na noite do dia 07 de agosto, sexta-feira. O funcionário da USP foi tomado como suspeito do roubo do seu próprio carro - um EcoSport da Ford.


Após um alarme falso de assalto, os seguranças e, posteriormente, policiais militares que atenderam a ocorrência não acreditaram que Santana pudesse ser dono do carro, por ser negro e de aparência humilde. Enquanto era espancado, sua mulher, em companhia de um filho de cinco anos, a irmã e um cunhado faziam compras sem saber do que ocorria. (Na foto, Santana, quando era atendido no Hospital Universitário da USP).

Suspenção permanente

O EcoSport da Ford foi comprado há dois anos em 72 parcelas de R$ 789,00, e vem sendo pago regularmente. Santana contou que já foi abordado outras vezes, sob a suspeita de que o veículo não lhe pertenceria. No momento em que foi atacado estava no estacionamento porque combinara ficar tomando conta da filha de dois anos que dormia no banco traseiro.

"O Carrefour tem todo interesse que o ocorrido no dia 07 de agosto, em sua loja situada na Avenida dos Autonomistas, Osasco, seja inteiramente esclarecido e os responsáveis devidamente punidos. A empresa reafirma o seu compromisso com o respeito e a segurança de clientes e funcionários em suas unidades em todo o país”, diz a Nota que é assinada pela empresa que presta serviços de de Assessoria de Comunicação ao hipermercado - a A4 Comunicação.

Anteriormente, questionado pelo Sindicato dos Funcionários da USP, o hipermercado teria dito que tudo não passara de uma briga entre clientes.

Milagre

Nesta terça-feira, o funcionário da USP reiterou ter ficado evidente pela atitude dos seguranças - em especial o que sacou a rama e com quem entrou em luta corporal - que o mesmo pretendia disparar contra sua cabeça. “Em vários momentos, eu tive que fazer força para que o revólver não ficasse na direção da minha cabeça”, afirmou Santana nesta terça-feira (18/08) ao contar à Afropress como está se refazendo do trauma sofrido.

"Eu só conseguia dizer que o carro era meu. Eles diziam. Cala a boca seu neguinho. Se não calar a boca, vou te quebrar todo. Eles iam me matar de porrada", contou.

Omissão da Polícia

A chegada de uma viatura da PM fez cessar os espancamentos, porém, um dos policiais militares - de sobrenome Pina - insistia para que ele confessasse o crime. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema”, dizia o policial ao segurança que sangrava pela boca e pelo nariz e que teve a protese arrancada em consequência de um soco.

O caso está registro no 5º DP, porém, o inquérito para apurar o caso e identificar os responsáveis pela agressão deverá ser conduzido pela 9º Delegacia de Osasco.


Repercussão

O caso do segurança barbaramente espancado sob a suspeita de roubo do seu próprio carro, está ganhando repercussão, inclusive, fora do país, desde que foi noticiado por Afropress. Santana foi procurado nesta terça por repórteres dos jornais O Estado de S. Paulo e do S. Paulo Agora, do Grupo Folha, a quem deu entrevista.

Baiano de Salvador e há 10 anos em S. Paulo, Santana trabalha há oito anos como segurança da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Sua mulher, USP, Maria dos Remédios do Nascimento Santana, 41 anos, também é funcionária da Universidade, onde presta serviços como auxiliar do Museu de Arte Contemporânea.

Na semana que vem - em data ainda não confirmada - deverá acontecer o início dos depoimentos no Inquérito Policial na 9º DP de Osasco, que apura o caso. O funcionário da USP disse que tem condições de reconhecer os agressores que o atacaram a socos, coronhadas e cabeçadas, enquanto ele implorava por piedadade. "Quanto mais eu falava meu Deus, mais me batiam", afirmou.

Segundo Santana, seus advogados - já constituídos - deverão acompanhar o inquérito policial e ingressar com ações de indenização contra o Carrefour e o Estado por dano moral.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Personal faz tudo existe...muito legal


Gente eu já vi muitas atividades, as pessoas continuam sempre muito criativas. Uma amiga minha resolveu ser um Personal Faz Tudo. Eu achei a idéia bem interessante, pois, às vezes quando menos esperamos acontece aquele imprevisto e ai você tem que sair de um lado da cidade e ir para outro. Por esse motivo faço questão de deixar aqui o trabalho que a Roberta faz e quem se interessar é só entrar em contato. (clique na imagem para ampliar as informações)


beijos ...saudações ambientais


Cláu


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Materiais de Educ. Ambiental que vão na contra-mão dos debates de EA


Povos



Hoje a EA passa por um processo amplo de debates através de grupos, coletivos, redes. Essas pessoas (do qual eu tb faço parte) tentam ao máximo construir uma EA que tenha características reais de onde vivemos. Não é a toa que participamos da construção da Política Estadual de Educacão Ambiental, onde fomos surpreendidos pelos vetos do governador. Por isso voltamos a dicutir a Política.
Leia a seguir o que os jovens dos Coletivos pensam sobre o material "desconectado do mundo" poduzido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.



Para jovens cartilha de EA do governo de São Paulo é um desfavor

A zebra é branca com listras pretas ou pretas com listras brancas? Não é pegadinha nem piada, esta é uma das perguntas que a cartilha da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo faz aos estudantes.

O Coletivo Jovem Caipira de Meio Ambiente chama atenção da sociedade para uma série de equívocos na "Cartilha Ecológica - Sou dessa turma!", da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo. Em artigo publicado no portal Flecha de Luz - Conhecimento e Prática dos Anticorpos de Gaia, o grupo analisa o material didático e convida toda a sociedade a repensar a Educação Ambiental (EA) no estado de São Paulo, apontando falhas desde o processo de elaboração ao conteúdo final, até a coerência do material didático com a legislação federal de Educação Ambiental.

Um ponto fundamental da análise é a crítica sobre a abordagem na elaboração do produto. Segundo o texto trata-se de "uma iniciativa isolada da Secretaria Estadual de Meio Ambiente pois não consta (na cartilha e no site) nenhuma indicação de reunião ou planejamento de governo com todos as outras Secretarias Estaduais". Falta de diálogo dentro do governo e também da Secretaria de Meio Ambiente com a sociedade, já que é fato a "ausência de consulta prévia com cidadãos, movimentos sociais, redes e coletivos gestores socioambientais".

Os jovens demonstram como o livro apresenta e impõe padrões de comportamento social, observam que são apresentados animais e árvores exóticos como referência para a construção de saberes ambientais no ensino formal paulista e também a ausência de espécies vegetais da Mata Atlântica. Na contramão da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99), que estabelece como princípio em seu artigo 4º a "abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais". Com certeza não é olhando pra fora da sua realidade que os alunos aprenderão as relações entre os acontecimentos de suas comunidades com o cenário internacional.Mais, atestam que ela foi produzida com material que implica altos desperdícios de papel na impressão e questionam a coerência da proposta com tratados e convenções internacionais, como a Convenção de Diversidade Biológica a qual o Brasil é signatário, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e Agenda 21.

A "Cartilha Ecológica - Sou dessa turma!" tem como proposta orientar a impĺementação da EA no ensino formal, atrelado à pontuação na diretiva de Educação Ambiental do Programa Municípios Verdes. Na opinião dos jovens do CJ Caipira, o material está sendo distribuído como "ferramenta para alcançar pontuação em EA no jogo do ranking dos Municípios Verdes, a política ambiental descentralizada como diz o site do Programa".Apesar dos vieses autoritário, simplista e centralizador da Secretaria de Meio Ambiente com a proposta, o Decreto 4.281, de 25 de junho de 2002 (que regulamenta a Lei 9.795/99 - Política Nacional de Educação Ambiental) expressa em seu artigo 5º que a EA deve ser integrada "às discplinas de modo transversal, contínuo e permanente". E diz também em seu artigo 6º que os programas de EA devem ser integrados entre outros, às atividades de conservação da biodiversidade, de zoneamento ambiental, de gerenciamento de resíduos, de gerenciamento costeiro, etc.

Para saber mais, acesse a análise Um desfavor ambiental em SP

Leia também sobre o Municípios Verdes

E conheça a Política Nacional de Educação Ambiental e a

Política Estadual de Educação de São Paulo

Crédito imagens: CJ Caipira

http://www.flechadeluz.org/

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Bifurcação da humanidade

Por Leonardo Boff
Publicado Segunda-Feira, 6 de Julho de 2009 às 10:34hs

Nos inícios do ano os vinte países mais ricos do mundo (G-20) se reuniram em Londres para encontrar saídas à crise econômico-financeira mundial. A decisão de base foi continuar no mesmo caminho anterior à crise mas com controles e regulações a partir de uma presença maior do Estado na economia. Os controles seriam pelo tempo necessário à superação da crise, a fim de evitar o colapso global e as regulações para restaurar o crescimento e a prosperidade com a mesma lógica que vigorou antes. Esta opção implica continuar com a exploração dos recursos naturais que devastam os ecossistemas e fazem aumentar o aquecimento global e o fosso social entre ricos e pobres. Se isso prosperar dentro de pouco enfrentaremos crise da mesma natureza, pois as causas não foram eliminadas. Acresce ainda o fato de que os restantes 172 países (ao todo são 192) sequer foram ouvidos e consultados. Pensou-se em ajudá-las mas com migalhas. Efetivamente, toda a África, o continente mais vulnerável, seria socorrida com menos fundos que o governo dos EUA aplicou para salvar a General Motor. O impacto perverso da crise sobre os países de baixo ingresso apresenta-se aterrador. Estima-se que, enquanto durar a crise, mais de 100 milhões de pessoas caiam cada ano na extrema pobreza e um milhão de postos de trabalho se perderão por mês. Tal fato fez com que o presidente da ONU, Miguel d’Escoto Brokmann, imbuído de alto sentido humanitário e ético, convocasse uma reunião de alto nível que reunisse os 192 representantes dos povos para juntos discutirem entre si a crise e buscarem soluções includentes. Isso ocorreu nos dias 24-26 de junho do corrente ano nos espaços da ONU. Todos falaram. Era impactante ouvir o clamor que vinha das entranhas da Humanidade: os ricos lamentando os trilhões em perdas de seus negócios e os pobres denunciando o aumento da miséria de seu povo. Muitas vozes soaram claras: não bastam controles e regulações que acabam beneficiando os que provocaram a crise. Faz-se urgente um novo paradigma que redefina a relação para com a natureza com seus recursos escassos, o propósito do crescimento e o tipo de civilização planetária que queremos. Importa elaborar uma Declaração do Bem Comum da Humanidade e da Terra que oriente ética e espiritualmente o sentido da vida neste pequeno planeta. Depois de um intenso trabalho previamente feito por uma comissão de expertos, presidida pelo Nobel de economia Joseph Stiglitz e com as colaborações vindas de quatro mesas redondas e da Assembléia Geral concertou-se um documento detalhado que ganhou o consenso dos 192 representantes dos povos. O perigo coletivo facilitou uma convergência coletiva, uma raridade na história da ONU. O documento prevê medidas inéditas especialmente para salvar os mais vulneráveis sob coordenação de várias instituições internacionais, articuladas entre si. Mas, o mais importante é a apresentação de um programa de reformas sistêmicas que prevê um sistema mundial de reservas com direitos especiais de giro, reformas de gestão do FMI e do Banco Mundial, regulações internacionais dos mercados financeiros e do comércio de derivados e principalmente a criação de um Conselho de Coordenação Econômica Mundial equivalente ao Conselho de Segurança. Desta forma se presume garantir um desenvolvimento estável e sustentável. O fato desta cúpula mundial é gerador de esperança, pois a humanidade começa a olhar para si como um todo e com um destino comum. Mas todas as soluções se orientam ainda sob o signo do desenvolvimento, o fator principal gerador da crise do sistema-Terra. Ele tem que ser trocado por um "modo sustentado geral de viver", caso contrário assistiremos à bifurcação da humanidade, entre os que desfrutam do desenvolvimento e os que são vítimas dele. Não chegamos ainda ao novo paradigma de convivência Terra-Humanidade, forjador de uma nova esperança. O próximo futuro, dizia o Presidente da Assembléia, será pela utopia necessária que precisamos construir para permanecermos juntos na mesma Casa Comum.
[Leonardo Boff é do corpo de assessores do presidente da Assembléia da ONU e com este título participou dos trabalhos ai realizados].
Leonardo Boff

sexta-feira, 19 de junho de 2009




por MARINA SILVA ACUMULAM-SE




As evidências de que a ação humana está mudando o clima da Terra em velocidade maior do que sepensava, acelerando a transformação de todos os ecossistemas. Foi o que me disse há alguns dias Carlos Nobre, respeitado especialista em climatologia, pesquisador doInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, o Painel de Mudanças Climáticas da ONU. Segundo Nobre, as previsões estão sendorevistas para pior. O mundo terá que tomar medidas enérgicas para conter o aquecimento global, cuja face mais visível é o derretimento crescente da cobertura degelo do Ártico, no Polo Norte. "Isso é muito sério, e terá reflexos no clima de todo o planeta e em toda a biologia marinha", disse ele. "Antes, a previsão era de que isso poderia acontecer no ano 2100. Agora já se pensa em algo como 2030 a 2050". Que no fim do século 21 a Terra será mais quente não há mais dúvidas. Há uma previsão de aumento médio da temperatura entre 1,8C e 4,5C . Acima de 2C já poderá ser catastrófico, mas muitos, numa atitude que poderíamos chamar de síndrome de Poliana,preferem pensar que o aumento será de apenas 1,8C e tudo terminará bem. No entanto, ninguém pode garantir que não chegará a 4,5C. No encontro de Copenhague, chegou-se a falar em corte, até 2050, de 100% nas emissões dos países ricos. Na média global, essa "descarbonização", como chamam os cientistas, terá que chegar a 80% em meados do século. Percentuais à parte, o Brasil não pode se eximir de fazer o seu papel. Nesse quesito, Poliana precisa ser avisada de que nem tudo vai bem. Volta atrás em caminhos penosamente percorridos e abre o flanco a riscos enormes de aumentar desmatamentos -nossa maior fonte deemissão de gases do efeito estufa-, e o Estado não induz a uma cultura de sustentabilidade. Acorde, Poliana! A situação é grave, e hoje em dia não basta o pensamento positivo. Ele ajuda muito, mas apenas quando somado à coerência e à ação.




Visite movimento MARINA SILVA PRESIDENTE em: http://marinasilvapresidente.ning.com

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Em outros lugares...em outra paisagem...



O pedagogo em espaços não escolares
Maria Edna Sabina de Olivera *

RESUMO
O novo cenário da educação se abre no século XXI com novas perspectivas para o profissional que se insere no mercado de trabalho, sob diversas abrangências, como nos mostra a própria sociedade, que vive um momento particular discussões sobre globalização, neoliberalismo, terceiro setor, educação on-line, enfim, uma nova estrutura se firma na sociedade, a qual exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem neste cenário competitivo.
A educação em espaços não escolares vem confirmar esta discussão que vivenciamos, o pedagogo sai então do espaço escolar, que até pouco tempo, era seu espaço (restrito) de trabalho, para se inserir neste novo espaço de atuação com uma visão redefinida da atuação deste profissional.
Empresas, hospitais, ONGs, associações, igrejas, eventos, emissoras de transmissão (rádio e Tv), e outros formam hoje o novo cenário de atuação deste profissional, que transpõe os muros da escola, para prestar seu serviço nestes locais que são espaços até então restritos a outros profissionais. E esta atual realidade vem com certeza, quebrando preconceitos e idéias de que o pedagogo está apto para exercer suas funções na sala de aula. Onde houver uma prática educativa, existe aí uma ação pedagógica.

PALAVRAS-CHAVE: Educação formal, não-formal e informal, sociedade, RH, Globalização, neo-liberalismo, terceiro setor, educação on-line, atuação.

DESENVOLVIMENTO
Convivemos até bem pouco tempo com a visão de uma pedagogia inserida no ambiente escolar, na sala de aula, do profissional da educação envolvido com os problemas da educação formal, uma idéia falsa de que o pedagogo é o profissional capacitado e devidamente treinado para atuar somente em espaços escolares, é o responsável pela formação intelectual das crianças, sempre se envolvendo no cotidiano escolar, com os problemas relacionados à educação formal, propriamente dita. A vida escolar, a educação formal, não deixa de ser um foco importante para o Pedagogo, mas deixa de ser o único.
Diante da atual realidade em que se encontra a sociedade, a educação tem se transformado na mola mestra, para enfrentar os desafios que se articulam dentro dela e em todos os seus segmentos, desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico na atual era, a tão inovadora e desafiadora era da informação.
A educação é também a mola mestra para transformar a situação de miséria, tanto intelectual quanto econômica, política e social do povo, promovendo acesso à sociedade daqueles que são vistos como os excluídos. Possibilitando assim a transformação da sociedade numa sociedade mais justa e igualitária. “Os efeitos da crise econômica globalizada e a rapidez das mudanças na era da informação levaram a questão social para o primeiro plano, e com ela o processo da exclusão social, que já não se limita à categoria das camadas populares”...(Gohn, 2001, p. 09)
Dessa forma a educação sofre mudanças em seu conceito, pois deixa de ser restrita ao processo ensino-aprendizagem em espaços escolares formais, se transpondo aos muros da escola, para diferentes e diversos segmentos como: ONGs, família, trabalho, lazer, igreja, sindicatos, clubes, etc. Abre-se aqui um novo espaço para a educação, dando uma estrutura interessante à educação não formal.
Com toda esta nova proposta e possibilidade de atuação, o profissional Pedagogo também se transforma, se adequando a esta nova realidade, se posicionando como profissional capacitado para caminhar junto a esta transformação da sociedade. O Pedagogo deixa de ser, neste novo contexto, o mesmo Pedagogo do século XVIII, XIX e até mesmo século XX.
Apresentando-se agora como agente de transformação para atuar nesta nova realidade.
Hoje, o profissional pedagogo está sendo inserido em um mercado de trabalho mais amplo e diversificado possível, porque a sociedade atual, exige cada vez mais profissionais capacitados e treinados para atuarem nas diversas áreas. Não sendo comum um profissional ser qualificado apenas para exercer uma determinada função, e sim para atuar nas diferentes áreas existentes no mercado de trabalho, seja ele qual for.
As linhas de pensamento relacionadas ao profissional Pedagogo possibilitam uma reflexão mais aprofundada sobre a sua atuação, pois hoje, se pensa muito mais detalhadamente a dinâmica do conhecimento e as novas funções do educador como mediador deste processo.
Dessa forma, não podemos mais nos deter somente no universo da educação formal, mas buscar novas fontes de formação e de informação para adequar este profissional no mundo globalizado e competitivo.
Toda transformação relacionada à atuação do Pedagogo se dá ao fato de que, hoje vivemos o processo que reflete a transformação de valores e pensamentos de uma sociedade voltada para valores mais específicos, como a cultura de seu povo, valor diferente daquele que até pouco tempo se primava pelo valor econômico. Ou seja, a cultura hoje tem o seu papel melhor
definido e mais importante para a sociedade do que situação econômica, propriamente dita.
Nesta perspectiva de mudança e viabilizando uma atuação deste profissional é que abrimos espaço para esta discussão, pautando nosso estudo na atuação do Pedagogo em espaços não escolares, suas habilidades e competências para atuação nestes espaços, o leque de possibilidades que hoje se abre deixando para trás a idéia primária de que este profissional está preparado somente para atuar em espaços escolares, e que pouco ou quase nada podendo aproveitar de suas habilidades para atuar em outros espaços.
Assim, este profissional que atravessa séculos, executando o seu papel de preceptor, de transformador do conhecimento e do comportamento humano, chegando ao século XXI, com uma nova proposta, sua efetiva atuação em espaços também não escolares, e que, no entanto, visam a aprendizagem e a transformação do comportamento humano, tanto quanto dentro da educação formal.
Este assunto tornou-se desafiador a partir do momento em que verificamos através de discussões realizadas em sala de aula, seminários, mesa redonda, através de leituras compartilhadas, visualizamos um horizonte se abrindo para esta área do conhecimento, discussões que estão fundamentadas em teóricos conceituados e pela própria sociedade que chega ao século XXI com novas perspectivas para a educação formal e também para a educação não formal, discussão que até bem pouco tempo era desconhecida para a maioria de nossas escolas de formação, e também dos profissionais.
Como hoje o Pedagogo, está sendo inserido num mercado de trabalho cada vez mais diversificado e amplo, o nosso estudo se justifica pela necessidade de compreender a dinâmica, que levou a sociedade a chegar onde estamos hoje, com um discurso voltado para a inclusão social, para o voluntariado, para projetos de pesquisas, para educação formal, não formal e informal, observando o processo de ensino-aprendizagem não somente como processo para dentro da escola, da sala de aula ou do cotidiano escolar, mas um processo que aconteceem todo e qualquer segmento da sociedade, seja ele qual for. E também como o Pedagogo se insere neste novo contexto social, percebendo a sua relação em diferentes espaços. “... Verifica-se hoje, uma ação pedagógica múltipla na sociedade. O pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não-formal” (Libâneo, 2002, p.28).
É importante ressaltar aqui como a educação formal e a não formal caminham paralelamente e, portanto, a necessidade de agregar ao ensino formal, ministrado nas escolas, conteúdos da educação não-formal, como os conhecimentos relativos às motivações, à situação social, à origem cultural, etc. Por isto, esta nova perspectiva de atuação do Pedagogo, sua qualificação vem filtrando cada vez mais, buscando uma relação estreita entre as diferentes propostas de educação existentes na sociedade. “... uma nova cultura escolar que forneça aos alunos instrumentos para que saibam interpretar o mundo” (Touraine, 1997, citação da autora).
Este assunto tornou-se relevante para este projeto, à medida que foi se descortinando as grandes possibilidades de pesquisas durante as discussões realizadas e também por apresentar um assunto que vem transformando a idéia de uma educação restrita em uma educação ampla e sem fronteiras. Este tem se tornado um assunto desafiador para tantos quanto se interam do mesmo.



BIBLIOGRAFIA
Gohn, Maria da Gloria. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o Associativismo do terceiro setor. 2ed. São Paulo, Cortez, 2001.
Holtz, Maria Luiza Marins. Lições de Pedagogia Empresarial. MH Assessoria Empresarial Ltda. 1999.
Ribeiro, Amélia Escotto do Amaral. Pedagogia Empresarial: Atuação do Pedagogo na Empresa. Rio de Janeiro. Wak.
Chiavenato, Idalberto. Gestão de Pessoas. São Paulo.
Libâneo, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática.
_________________ Pedagogia e pedagogos para quê? São Paulo, Cortez, 2002.
Luck, Heloisa. Metodologia de Projetos. Petorpolis, R. J.: Vozes, 2003.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quarta Carta

Texto extraído do livro : Professora Sim. Tia não - Paulo Freire

Das qualidades indispensáveis ao melhor desempenho de professoras e professores progressistas

Gostaria de deixar claro que as qualidades de que vou falar e que me parecem indispensáveis às educadoras e aos educadores progressistas são predicados que vão se gerando na sua prática. Mais ainda, são gerados na prática em coerência com a opção política, de natureza crítica do educa-dor. Por isso, as qualidades de que falarei não são algo com que nascemos ou que encarnamos por decreto ou recebemos de presente. Por outro lado, ao serem alinhadas neste texto, não quero atribuir à ordem em que apareçam nenhum juízo de valor. Todas são necessárias à prática educativa progressista.
Começarei pela humildade que, de modo algum, significa falta de acato a nós mesmos, acomodação, covardia. Pelo contrário, a humildade exige coragem, confiança em nós mesmos, respeito a nós mesmos e aos outros.
A humildade nos ajuda a reconhecer esta coisa óbvia: ninguém sabe tudo; ninguém ignora tudo. Todos sabemos algo; todos ignoramos algo. Sem humildade dificilmente ouviremos com respeito a quem consideramos demasiadamente longe de nosso nível de competência. Mas a humildade que nos faz ouvir o considerado menos competente do que nós não é um ato de condescendência de nossa parte ou um comportamento de quem paga uma promessa feita com fervor: “Prometo a Santa Luzia que, se o problema de meus olhos não for algo sério, vou ouvir com atenção os rudes e ignorantes pais de meus alunos.” Não. Não é isso. Ouvir com atenção a quem nos procura, não importa seu nível intelectual, é dever humano e gosto democrático, nada elitista.
De fato, não vejo como conciliar a adesão ao sonho democrático, a superação dos preconceitos, com a postura inumilde, arrogante, na qual nos sentimos cheios de nós mesmos. Como ouvir o outro, como dialogar, se só ouço a mim mesmo, se só vejo a mim mesmo, se ninguém que não seja eu mesmo me move ou me comove. Se, humilde, não me minimizo nem aceito humilhação, por outro lado, estou sempre aberto a aprender e a ensinar. A humildade me ajuda a jamais deixar-me prender no circuito de minha verdade. Um dos auxiliares fundamentais da humildade é o bom senso que nos adverte estarmos próximos, com certas atitudes, de ir mais além do limite a partir do qual nos perdemos.
A arrogância do “sabe com quem está falando?”, a empáfia do sabichão incontido no gosto de fazer conhecido e reconhecido o seu saber, nada disso tem que ver com a mansidão, não com a apatia, do humilde. É que a humildade não floresce na insegurança das pessoas, mas na segurança insegura dos cautos. Por isso é que uma das expressões da humildade é a segurança insegura, a certeza incerta e não a certeza demasiado certa de si mesma. A postura do autoritário, pelo contrário, é sectária. A sua é a única verdade que necessariamente deve ser imposta aos demais. É na sua verdade que reside a salvação dos demais. O seu saber é “iluminador” da “obscuridade” ou da ignorância dos outros, que por isso mesmo devem estar submetidos ao saber e à arrogância do autoritário ou da autoritária. Retomo agora a análise do autoritarismo, não importa se dos pais e mães, se das professoras ou professores. Autoritarismo frente ao qual podemos esperar nos filhos e alunos ora posições rebeldes, refratárias a quaisquer limites, disciplina ou autoridade, mas também apatia, obediência exagerada, anuência sem crítica ou resistência ao discurso do autoritário, renúncia a si mesmo, medo à liberdade.
Ao dizer que do autoritarismo se pode esperar vários tipos de reação, entendo que, felizmente, no domínio do humano as coisas não se dão mecanicamente. Desta forma, é possível a certas crianças passar quase ilesas à rigorosidade do arbítrio, o que não nos autoriza a jogar com esta possibilidade e a não nos esforçar por ser menos autoritários se não por causa do sonho democrático, em nome do respeito do ser em formação de nossos filhos e filhas de nossos alunos e alunas.
Mas é preciso juntar à humildade com que a professora atua e se relaciona com seus alunos, uma outra qualidade, a amorosidade, sem a qual seu trabalho perde o significado. E amorosidade não apenas aos alunos, mas ao próprio processo de ensinar. Devo confessar que, sem nenhuma cavilação, não acredito que, sem uma espécie de “amor armado”, como diria o poeta Tiago de Melo, educadora e educador possam sobre-viver às negatividades de seu que-fazer. Às injustiças, ao descaso do poder público, expresso na sem-vergonhice dos salários, no arbítrio com que professoras e não tias que se rebelam e participam de manifestações de protesto através de seu sindicato, são punidas mas apesar disso continuam entregues ao trabalho com seus alunos.
É preciso contudo que esse amor seja, na verdade, um “amor armado”, um amor brigão de quem se afirma no direito ou no dever de ter o direito de lutar, de denunciar, de anunciar. É essa a forma de amar indispensável ao educador progressista e que precisa de ser aprendida e vivida por nós.
Acontece, porém, que a amorosidade de que falo, o sonho pelo qual briga e para cuja realização me preparo permanentemente, exigem que eu invente em mim, na minha experiência social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de amar.
A coragem, como virtude, não é algo que se ache fora de mim. Enquanto superação do meu medo ela o implica.
Em primeiro lugar, quando falamos sobre o medo devemos estar absolutamente seguros de que estamos falando sobre algo muito concreto. Isto é, o medo nao é uma abstração. Em segundo lugar, creio que devemos saber que estamos falando sobre uma coisa muito normal. Outro ponto que me vem à mente é que, quando pensamos em medo, somos levados a refletir sobre a necessidade de sermos muito claros a respeito cìe nossas opções, o que exige certos procedimentos e práticas concretas que são as próprias experiências que provocam o medo.
Na medida em que tenho mais e mais clareza a respeito de minha opção, de meus sonhos, que são substantivamente políticos e adjetivamente pedagógicos, na medida em que reconheço que, enquanto educador, sou um político, também entendo melhor as razões pelas quais tenho medo e percebo o quanto temos ainda de caminhar para melhorar nossa democracia. É que, ao pôr em prática um tipo de educação que provoca criticamente a consciência do educando necessariamente trabalhamos contra alguns mitos que nos deformam. Ao contestar esses mitos enfrentamos também o poder dominante pois que eles são expressões desse poder, de sua ideologia.
Quando começamos a ser envolvidos por medos concretos, tais como o de perder o emprego, o de não ser promovidos, sentimos a necessidade de estabelecer certos limites a nosso medo. Antes de tudo, reconhecemos que sentir medo é manifestação de que estamos vivos. Não tenho que esconder meus temores. Mas, o que não posso permitir é que meu medo me imobilize. Se estou seguro do meu sonho político, com táticas que talvez diminuam os riscos que corro, devo prosseguir na luta. Daí, a necessidade de comandar meu medo, de educar meu medo, de que nasce finalmente minha coragem. Por isso é que não posso, de um lado, negar meu medo; de outro, abandonar-me a ele. Mas preciso controlá-la e é no exercício desse controle que minha coragem necessária vai sendo partejada.
É por isso que há medo sem coragem, que é o medo que nos avassala, que nos paralisa, mas não há coragem sem medo, que é o medo que, “falando” de nós como gente, vem sendo por nós limitado, submetido, controlado.
Outra virtude é a tolerância. Sem ela é impossível um trabalho pedagógico sério, sem ela é inviável uma experiência democrática autêntica, sem ela a prática educativa progressista se desdiz. A tolerância não é, porém, posição irresponsável de quem faz o jogo do faz-de-conta.
Ser tolerante não é ser conivente com o intolerável, não é acobertar o desrespeito, não é amaciar o agressor, disfarçá-lo. A tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente. A aprender com o diferente, a respeitar o diferente.
Num primeiro momento, falar em tolerância é quase como se estivéssemos falando em favor. É como se ser tolerante fosse uma forma cortês, delicada, de aceitar, de tolerar a presença não muito desejada de meu contrário. Uma maneira civilizada de consentir numa convivência que de fato me repugna. Isso é hipocrisia, não tolerância. Hipocrisia é defeito, é desvalor. Tolerância é virtude. Por isso mesmo se a vivo devo vivê-la como algo que assumo. Como algo que me faz coerente, primeiro, com o ser histórico, inconcluso que estou sendo, segundo, com minha opção político-democrática. Não vejo como possamos ser democráticos sem experimentar, como princípio fundamental, a tolerância, a convivência com o diferente.
Ninguém aprende tolerância num clima de irresponsabilidade, no qual não se faz democracia. O ato de tolerar implica o clima de estabelecimento de limites, de princípios a serem respeitados. Por isso a tolerância não é conivência com o intolerável. Sob regime autoritário, em que a autoridade se exacerba ou sob regi-me licencioso, em que a liberdade não se limita, dificilmente aprendemos a tolerância. A tolerância requer respeito, disciplina, ética. O autoritário, empapado de preconceitos de sexo, de classe, de raça, jamais pode ser tolerante se não vencer antes seus preconceitos. É por isso que o discurso progressista do preconceituoso, em contraste com sua prática, é um discurso falso. É por isso também que o cientificista é igualmente intolerante porque toma ou entende a ciência como a verdade última, daí que fora dela nada valha, pois é ela a que nos dá a certeza de que não se pode duvidar. Não há como ser tolerantes se estamos imersos no cientificismo, o que não nos deve levar à negação da ciência.
Gostaria agora de agrupar a decisão, a segurança, a tensão entre paciência e impaciência e a alegria de viver como qualidades a serem cultivadas por nós, se educadores ou educadoras progressistas.
A capacidade de decisão da educadora ou do educador é absolutamente necessária a seu trabalho formador. É testemunhando sua habilitação para decidir que a educadora ensina a difícil virtude da decisão. Difícil na medida em que decidir é romper para optar. Ninguém decide a não ser por uma coisa contra a outra, por um ponto contra outro, por uma pessoa contra outra. Por isso é que toda opção que se segue à decisão exige uma criteriosa avaliação no ato de comparar para optar por um dos possíveis pólos ou pessoas ou posições. É a avaliação com todas as implicações que ela engendra, que me ajuda, finalmente, a optar.
Decisão é ruptura nem sempre fácil de ser vivida. Mas não é possível existir sem romper, por mais difícil que nos seja romper.
Uma das deficiências de uma educadora é a sua incapacidade de decidir. Sua indecisão, que os educandos entendem como fraqueza moral ou como incompetência profissional. A educadora democrática, só por ser democrática, não pode anular-se; pelo contrário, se não pode assumir sozinha a vida de sua classe não pode, em nome da democracia, fugir à sua responsabilidade ele tomar decisões. O que não pode é ser arbitrária nas decisões que toma. O testemunho, enquanto autoridade de não assumir o seu dever, deixando-se tombar na licenciosidade é certamente mais funesto do que o de extrapolar os limites de sua autoridade.
Há muitas ocasiões em que o bom exemplo pedagógico, na direção da democracia, é tomar a decisão com os alunos, depois da análise do problema. Em outros momentos, em que a decisão a ser tomada deve ser da alçada da educadora, não há por que não assumi-la, não há por que omitir-se.
A indecisão revela falta de segurança, uma qualidade indispensável a quem quer que tenha responsabilidade no governo, não importa se de uma classe, de uma família, de uma instituição, de uma empresa ou do Estado.
A segurança, por sua vez, demanda competência científica, clareza política e integridade ética.
Não posso estar seguro do que faço se não sei como fundamentar cientificamente a minha ação se não tenho pelo menos algumas idéias em torno do que faço, de por que faço, para que faço. Se pouco ou nada sei sobre ou a favor de que e de quem, de contra que e contra quem faço o que estou fazendo ou farei. Se não me move em nada, se o que faço fere a dignidade das pessoas com quem trabalho, se as exponho a situações vexatórias que posso e devo evitar, minha insensibilidade ética, meu cinismo me contra-indicam a encarnar a tarefa do educador. Tarefa que exige uma forma criticamente disciplinada de atuar com que a educadora desafia seus educandos. Forma disciplinada que tem que ver, de um lado, com a competência que a professora vai revelando aos educandos, discreta e humildemente, sem estardalhaços arrogantes; de outro, com o equilíbrio com que a educadora exerce sua autoridade – segura, lúcida, determinada.
Nada disso, porém, pode ser concretizado se falta à educadora o gosto da procura permanente de justiça. Ninguém pode proibi-la de gostar mais de um aluno, por n razões, do que dos outros. É um direito seu. O que ela não pode é preterir o direito dos outros em prol do seu preferido.
Há outra qualidade fundamental que não pode faltar à educadora progressista e que exige dela a sabedoria com que se dê à experiência de viver a tensão entre a paciência e a impaciência. Nem a paciência sozinha nem a impaciência solitária. A paciência sozinha pode levar a educadora a posições de acomodação, de espontaneísmo, com que nega seu sonho democrático. A paciência desacompanhada pode conduzir ao imobilismo, à inação. A impaciência, sozinha, por outro lado, pode levar a educadora ao ativismo cego, à ação por si mesma, à prática em que não se respeitam as necessárias relações entre tática. e estratégia. A paciência isolada tende a obstaculizar a consecução dos objetivos da prática, tornando-a “tenra”, “macia” e inoperante. Na impaciência insulada ameaçamos o êxito da prática que se perde na arrogância de quem se julga dono da história. A paciência só, se exaure no puro blá-blá-blá; a impaciência a sós, no ativismo irresponsável.
A virtude não está, pois, em nenhuma delas sem a outra, mas em viver a permanente tensão entre elas. Viver e atuar impacientemente paciente, sem jamais se dar a uma ou a outra, isoladamente.
Ao lado desta forma de ser e de atuar, equilibrada, harmoniosa, se impõe outra qualidade que venho chamando parcimônia verbal. A parcimônia verbal está implicada na assunção da tensão paciência-impaciência. Quem vive a impaciente paciência dificilmente, a não ser em casos excepcionais, perde o controle sobre sua fala, dificilmente extrapola os limites do discurso ponderado mas enérgico. Quem preponderantemente vive a paciência apenas abafa sua legítima raiva que expressa num discurso frouxo e acomodado. Quem, pelo contrário, descontroladamente é só impaciência tende ao destempero no discurso. O discurso do paciente é sempre bem comportado enquanto o discurso do impaciente, de modo geral, vai mais além do que a realidade mesma suportaria.
Ambos estes discursos, o muito controlado como o em nada disciplinado, contribuem para a preservação do status quo. O primeiro por estar demasiado aquém da realidade; o segundo, por ir mais além do limite suportável.
O discurso e a prática benevolente do só paciente na classe sugere aos educandos que tudo ou quase tudo é possível. Há no ar, uma paciência às portas do inesgotável. O discurse nervoso, arrogante, incontrolado, irrealista, sem limite, se acha empapado de inconseqüência, de irresponsabilidade.
Em nada esses discursos ajudam na formação dos educandos.
Há ainda os que são excessivamente temperados em seu discurso mas, de vez em quando, se destemperam. Da só paciência passam inesperadamente para a incontida impaciência, criando um clima de insegurança nos demais, com resultados indiscutivelmente péssimos.
Há um sem-número de mães e pais que se comportam assim. De uma licenciosidade em que a fala e a ação são coerentes hoje, mas transformam o dia seguinte num universo de desatinos, de discursos e ordens autoritárias que deixam as filhas e os filhos estupefatos, mas sobretudo inseguros. A ondulação no comportamento dos pais limita nos filhos o equilíbrio emocional de que precisam para crescer. Amar não basta, precisamos de saber amar.
Me parece importante, reconhecendo a incompletude das reflexões em torno das qualidades, discutir um pouco a alegria de viver como virtude fundamental da prática educativa democrática.
É me dando plenamente à vida e não à morte – o que não significa, de um lado, negar a morte, de outro, mitificar a vida – que me entrego, disponivelmente, à alegria de viver. E é a minha entrega à alegria de viver, sem que esconda a existência de razões para tristeza na vida, que me prepara para estimular e lutar pela alegria na escola.
É vivendo, não importa se com deslizes, com incoerências, mas disposto a superá-los, a humildade, a amorosidade, a coragem, a tolerância, a competência, a capacidade ele decidir, a segurança, a eticidade, a justiça, a tensão entre paciência e impaciência, a parcimônia verbal, que contribuo para criar, para forjar a escola feliz, a escola alegre. A escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida. E não a escola que emudece e me emudece.
A solução realmente mais fácil para encarar os obstáculos, o desrespeito do poder público, o arbítrio da autoridade anti-democrática e a acomodação fatalista em que muitos de nós se instalam.
“Que posso fazer, se é sempre assim? Me chamem professora ou tia eu continuo mal paga, desconsiderada, desatendida. Pois que assim seja.” Esta é na verdade a posição mais cômoda, mas é também a posição de quem se demite da luta, da História. É a posição de quem renuncia ao conflito, sem o qual negamos a dignidade da vida. Não há vida nem humana existência sem briga e sem conflito. O conflito parteja a nossa consciência. Negá-la é desconhecer os mais mínimos pormenores da experiência vital e social. Fugir a ele é ajudar a preservação do status quão.
Por isso, não vejo outra saída senão a da unidade na diversidade de interesses não antagônicos dos educadores e elas educadoras na defesa de seus direitos. Direito à sua liberdade docente, direito à sua fala, direito a melhores condições de trabalho pedagógico, direito a tempo livre e remunerado para dedicar à sua formação permanente, direito ele ser coerente, direito de criticar as autoridades sem medo de punição a que corresponde o dever de responsabilizar-se pela veracidade de sua crítica, direito de ter o dever de ser sérios, coerentes, de não mentir para sobreviver.
Para que esses direitos sejam mais do que reconhecidos – respeitados e encarnados – é preciso que lutemos. Às vezes, que lutemos ao lado do sindicato e até contra ele se sua lide-rança é sectária, de direita ou de esquerda. Mas também às vezes é preciso que lutemos enquanto administração progressista contra as raivas endemoniadas dos retrógrados, dos tradicionalistas entre os quais alguns se julgam progressistas e dos neo-liberais para quem a História parou neles.

Texto : Do livro Professora sim, tia não. Paulo Freire

Você é a/o visitante ...




Olá...visita..visita..




Estamos a caminho do VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, evento de âmbito nacional que se constitui no grande encontro dedicado a esta temática no Brasil. Atualmente sob a responsabilidade da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), coletivo que reúne os educadores ambientais do país, os fóruns vêm se consolidando como um espaço de destaque que congrega e articula os mais diversos atores e segmentos da Educação Ambiental (EA). Espera-se, para o VI Fórum, um público de 5 mil participantes inscritos.
Aconteceram em São Paulo a primeira, segunda e terceira edições do evento. Em 1997, na cidade de Guarapari (Espírito Santo), tiveram lugar o IV Fórum de Educação Ambiental e o I Encontro da Rede Brasileira de Educação Ambiental. Em novembro de 2004, em Goiânia (GO), foi realizado o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental.
O V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental reuniu em Goiânia, de 3 a 6 de novembro de 2004, mais de 4 mil pessoas. Foi estruturado em torno de três eixos (a Política Nacional de Educação Ambiental, a Formação da Educadora Ambiental e as Redes Sociais de Educação Ambiental) e contou com uma programação bastante extensa e variada. A programação oficial (Conferências, mesas-redondas, minicursos, oficinas, apresentações de trabalhos na forma de pôsteres, Grupos de Trabalho, espaço para diálogo com as redes de EA, testemunhos de pessoas com trajetória marcante nas questões socioambientais, encontro com autores de publicações na área, Encontros Paralelos, exposições, teatro, música, espaço para artesãos, estandes, Trilha da Vida, Feira de Trocas) foi enriquecida com um grande número de manifestações espontâneas, que antes mesmo da Solenidade de Abertura do V Fórum envolviam e mobilizavam o numeroso público que já circulava pelo Centro de Convenções.
Em reunião realizada no encerramento do V Fórum, foi decidido que o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental seria sediado na cidade do Rio de Janeiro, em 2007, momento em que completamos 15 anos da Rio-92 e do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. O Tratado é a Carta de Princípios da Rebea e das mais de 40 redes de EA a elas entrelaçadas. Documento gerado a partir de amplo processo mundial de consulta, o Tratado teve inicialmente como signatários a sociedade civil representada na Jornada Internacional de Educação Ambiental, no Fórum Global da Rio-92, e é até hoje uma referência para a Educação Ambiental. Pouco a pouco o Tratado foi incorporado a políticas públicas locais e nacionais, tendo sido assumido como referencial pela UNESCO no ano de 2000. O Tratado é documento de referência para o Programa Nacional de EA.
Revisitado em 2006, em processo que culminou com a realização de um Encontro Especial durante o V Congresso Ibero-americano de EA (Joinville -SC, abril), o Tratado é um processo dinâmico e em permanente construção. Com base nos resultados dos diálogos ocorridos e Joinville, tem início uma ação de re-mobilização em torno do Tratado, que conta com a realização de encontros por todo o Brasil e terá seu ápice no VI Fórum Brasileiro de EA, que elege como seu tema central o Tratado.
O processo de construção do VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental teve como pedra fundamental o Encontro Os olhares da juventude sobre o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, realizado de 28 de março a 1 de abril de 2007, na cidade de Pirenópolis, Goiás. O Encontro teve como proposta um mergulho no Tratado - sua história, processo de construção, conjuntura em que foi gerado, conteúdo, princípios. Configurou-se como um grande evento preparatório nacional para o VI Fórum, a partir do qual os movimentos de juventude, as redes e demais atores da EA vão realizar encontros regionais disseminando e aprofundando a temática. Está em andamento a construção coletiva do VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental.

de 22 a 25 de julho de 2009

Campus da Praia Vermelha - UFRJ

Urca - Rio de Janeiro - RJ

http://forumearebea.org/

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Rogando praga ....



“Estamos rogando uma praga antecipatória às futuras gerações”; Diz Marina Silva



Por Camila Souza Ramos (Revista Fórum)



Em uma época em que crise é a palavra mais citada para identificar não só a atual situação financeira, mas o panorama de nossa civilização, reforça-se a palavra sustentabilidade como prática de proteção ao meio ambiente, mas do próprio ser humano. Com uma forma não convencional de explicar sustentabilidade, Marina Silva também atribuiu um novo significado ao termo, retomando a necessidade natural que o homem tem em ser sustentável. A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente esteve presente em evento do Movimento Nossa São Paulo nesta sexta-feira, 15, e falou para o auditório do SESC Consolação lotado sobre a ressignificação de sustentabilidade nos dias atuais. “Essa é uma crise civilizatória, estamos em uma esquina ética em que teremos que fazer escolhas”, disse. “Estamos para decidir entre tomar três tipos de atitudes: podemos ficar estagnados e sermos levados; podemos fraudar o teste e fingir que tomamos atitudes que não resolvem; ou passar no teste, levando em conta o princípio da precaução”.

O caminho que nos levou a essa encruzilhada, diz Marina, iniciou-se a partir da cisão entre nós e o ambiente, e do domínio de nossas vontades sobre nossas necessidades. “Desde que o ‘id’ dominou a Terra, esquecemos de cuidar da sustentabilidade em todos os aspectos da vida”, afirma. Por isso ela acredita que precisamos ser “sustentáveis espiritualmente” também. Os discursos gerados a partir dessa cisão entre o eu e o ambiente criaram objetivos individualistas e autodestrutivos. “Nossa civilização criou a idéia de que o céu é o limite. Mas o aquecimento global tem mostrado que o céu é quem tem nos limitado. Estamos agora encontrando os limites da natureza”, fala. O comportamento derivado dessa cisão e sua reprodução são a ponta mais evidente desse processo. Marina lembra que “ninguém nasce querendo ter as coisas”. “Primeiro a gente aprende a ser gente, depois aprende a ter coisas. Acontece que aprendemos primeiro a ter as coisas do que a fazer com respeito. E esse fazer-fazer para ter-ter que tornou nossa civilização inviabilizadora”, coloca. Mas esquecemos que esta reprodução de comportamentos e discursos resulta na determinação de um destino para as futuras gerações. “Qual o projeto antecipatório que nós temos para aqueles que ainda não nasceram? No atual contexto, o que temos é uma praga antecipatória”, provoca. “Se não houvesse ninguém que nos formássemos, morreríamos. E o homem é um ser que depende da sustentação do outro, ele depende que os outros signifiquem para ele. É o outro que faz significação para dar sentido às coisas”, continua a senadora.
Marina defendeu a criação do novo índice de qualidade de vida (link). “Tudo depende de nossos referenciais. Índices nem sempre apontam felicidade do povo”, defende. “Temos que pensar o que é essa história de bem-estar”. Mas Marina ressalta que o índice não deve servir somente para a população cobrar das autoridades uma melhora nos números registrados. “Os fóruns não deve colocar tudo para o governo. As pessoas acham que tudo é o governo. Existe responsabilidade do cidadão comum, podemos eleger caminhos diferentes”, completa.


terça-feira, 5 de maio de 2009

Gripe Suína

Por José Saramago

Não sei nada do assunto e a experiência directa de haver convivido com porcos na infância e na adolescência não me serve de nada. Aquilo era mais uma família híbrida de humanos e animais que outra coisa. Mas leio com atenção os jornais, ouço e vejo as reportagens da rádio e da televisão, e, graças a alguma leitura providencial que me tem ajudado a compreender melhor os bastidores das causas primeiras da anunciada pandemia, talvez possa trazer aqui algum dado que esclareça por sua vez o leitor. Há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vector da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico “intercâmbio” genómico. Há já seis anos que a revista Science publicava um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe. Nas últimas décadas, o sector pecuário transformou-se em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica quinta familiar que os livros de texto na escola se comprazem em descrever…
Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Actualmente, 65 milhões de porcos concentram-se em 65.000 instalações. Isso significou passar das antigas pocilgas aos ciclópicos infernos fecais de hoje, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agente patogénicos à velocidade do raio, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários.
Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada.
Continuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a “produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas – mais barato que em ambientes humanos – estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão. Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco. Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandémica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.
Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?

domingo, 26 de abril de 2009

Esse artigo eu recebi de uma amiga especial Cleide

Quem está doente: Adriano ou os outros?

Que sociedade é esta que, quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, compra cerveja e hambúrguer para todo mundo, fica empinando pipa – se considera que está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem? Quem precisa mais de apoio psiquiátrico: o Adriano ou o Ronaldinho Gaucho?O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem “normais”. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um tipo italiano, primeiro colocado no campeonato de lá.Normal é ser membro de alguma igreja esquisita, cujo casal de pastores principais foram presos por desvio de fundos. Normal é casar virgem, ser careta, evangélico, bem comportado, responder a todas as solicitações e assinar todos os contratos. Normal é receber uma proposta milionária de um clube inglês dirigida por um sheik, ficar pensando um bom tempo, depois resolver não aceitar e ser elogiado por ter preferido seu clube, quando antes ele ficou avaliando, com a calculadora na mão, se valia a pena trocar um contrato milionário por outro.Considera-se desequilibrado mental quem recusa um contrato milionário, para viver com bermuda, camiseta e sandália havaiana. Falou à imprensa de todo o mundo, disposta a confissões espetaculares sobre o que havia feito nos três dias em que esteve supostamente desaparecido – quando a imprensa não sabe onde está alguém, está “desaparecido”, chegou-se até a dizer que Adriano teria morrido -, buscando pressioná-lo para que confessasse que era alcoólatra e/ou dependente de drogas, encontrar mulheres espetaculares na jogada.Falou como ser humano, que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que “vai dar um tempo”, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família.Este comportamento deveria ser considerado humano, normal, equilibrado. Mas numa sociedade em que “não se rasga dinheiro”, em que a fama e a grana são os objetivos máximos a ser alcançados, quem está doente: Adriano ou essa sociedade? Quem ter que ser curada? Quem é normal, quem está feliz?

Postado por Emir Sader às 11:46
Quem é Emir Sader : nasceu em São Paulo,13 de julho de 1943 é um sociologo e cientita político, ligado aos PT (PT). Formou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo. Fez Mestrado em Filosofia Política e Doutorado em Ciência Política, ambos na Universidade de São Paulo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Educação não-formal

Educação não - formal

A liberdade na educação.
Os objetivos surgem das demandas do grupo de forma coletiva.